sexta-feira, 30 de novembro de 2007

7...6...5...4...3...2...1....


Gervásio era realmente azarado. Poderia ter nascido siamês, já que sua mãe se envolvera com um gato de raça que rondava aquele spot, mas nasceu um vira-latas, assimétrico e ingénuo. Tinha os pêlos escassos de coloração disforme que o fazia parecer sempre sujo: uma mistura de ferrugem. Passava os dias deambulando pela avenida sem rumo certo, comunicava pouco com os outros bichos, já que na maioria das vezes era desprezado e mal tratado, alimentava-se aqui e ali principalmente do raciocinio do comportamento humano...Enfim, era um gatito antropólogo...
A noite tinha chegado, a escuridão reinava, o frio estava gélido, Gervásio cambaleava por entre pedras e pedrinhas, o seu pêlo já era escasso, reclamava calor e algo que servisse de alimento enquanto miava bem baixinho e olhava pelas ruas. Naquele instante nada fazia sentido na sua vida, o que o levou a entrar num estado de alucinação e paranóia...
Aterrorizado perdeu a noção dos sentidos, correu completamente desnorteado como se não houvesse amanhã enquanto que aquelas luzinhas amarelas passavam apressadas de um lado para o outro. Até que o inevitável aconteceu!! O felino foi projectado para a berma da estrada, miava de dor, a sua respiração tornou-se cada vez mais fraca, o ar cada vez mais escasso, o olhar gelou e fez-se silêncio...


Eh!! Acho que atropelei um gato?!?


Enfim, o antropólogo morreu na calçada, como morrem os animais de rua...


2 comentários:

L. Romudas disse...

Gostei! Muito bem escrevido, sim senhora! Acho que acabá-mos de descobrir um génio literário! Assassino de gatos, é certo, mas um génio literário. E a não ser assassino, pelo menos cúmplice é de certeza!

Parabéns, continua aí a amostrar os meandros dessa imaginação.

Ana Dionísio disse...

Uou! Não sabia que escrevias, e gostei muito do que li. Como pode ser dura a vida de um gato...antropólogo :D

bjs