Gervásio era realmente azarado. Poderia ter nascido siamês, já que sua mãe se envolvera com um gato de raça que rondava aquele spot, mas nasceu um vira-latas, assimétrico e ingénuo. Tinha os pêlos escassos de coloração disforme que o fazia parecer sempre sujo: uma mistura de ferrugem. Passava os dias deambulando pela avenida sem rumo certo, comunicava pouco com os outros bichos, já que na maioria das vezes era desprezado e mal tratado, alimentava-se aqui e ali principalmente do raciocinio do comportamento humano...Enfim, era um gatito antropólogo...
A noite tinha chegado, a escuridão reinava, o frio estava gélido, Gervásio cambaleava por entre pedras e pedrinhas, o seu pêlo já era escasso, reclamava calor e algo que servisse de alimento enquanto miava bem baixinho e olhava pelas ruas. Naquele instante nada fazia sentido na sua vida, o que o levou a entrar num estado de alucinação e paranóia...
Aterrorizado perdeu a noção dos sentidos, correu completamente desnorteado como se não houvesse amanhã enquanto que aquelas luzinhas amarelas passavam apressadas de um lado para o outro. Até que o inevitável aconteceu!! O felino foi projectado para a berma da estrada, miava de dor, a sua respiração tornou-se cada vez mais fraca, o ar cada vez mais escasso, o olhar gelou e fez-se silêncio...
Eh!! Acho que atropelei um gato?!?
Enfim, o antropólogo morreu na calçada, como morrem os animais de rua...
2 comentários:
Gostei! Muito bem escrevido, sim senhora! Acho que acabá-mos de descobrir um génio literário! Assassino de gatos, é certo, mas um génio literário. E a não ser assassino, pelo menos cúmplice é de certeza!
Parabéns, continua aí a amostrar os meandros dessa imaginação.
Uou! Não sabia que escrevias, e gostei muito do que li. Como pode ser dura a vida de um gato...antropólogo :D
bjs
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