Filha de uma árvore frondosa, imponente e que se orgulhava de ter folhas de muitas cores. Nasceu a folha, verdinha, simples, modesta e viçosa. A folha recebia diariamente os raios matinais, brilhava, dançava suavemente ao sabor do vento. Crescia suave, calmamente sem nada nem ninguém dar por isso. Cresceu, cresceu, mas a pouco e pouco, tornou-se triste. Começou a invejar as aves. As aves voavam, e ela, apenas fazia de folha. Sentia ciúmes de não ser como elas, de voar, de erguer-se nos céus e de percorrer o mundo. Queria ser ave, queria desenhar no azul a sua arte, queria sorrir ao vento e brincar como as crianças.
O tempo passou, a simples folha, verde, tornou-se amarelada e acastanhada...Perdeu a juventude, a vida, por querer ser uma ave, por querer ser quem nunca poderia ser...
Num dia de Outono, um vento agreste passou, agitou-a, e a folha, agora acastanhada, desprendeu-se, e voou, voou bem alto, andou e andou, e caiu inanimada no chão...
Saltitou ainda, voltou a saltitar e desapareceu...
Espezinhada, maltratada, para além da vida...dela, nada perdurou...
1 comentário:
Bonito texto...há tantas folhas por aí, tanto tempo que se perde a cobiçar um tempo que não é nosso...porque é que se é assim?! Porque é que não se é apenas feliz e pronto?!
"As vezes em sonho triste, nos meus desejos existe, longinquamente um país, onde ser feliz consiste apenas em ser feliz!"
Fernando Pessoa
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